quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Auschwitz/Birkenau.


Esperavam que a voz fosse suave
as palavras novas
num toque de pluma nos ouvidos
nos olhos
que não estão assustados
O sorriso começa agora a dar um ar
das suas asas, um pássaro
novo
deixa alegres vestígios sobre a neve.

Foi uma correria para achar um jeito de ir para Auschwitz, perdemos um pacote turístico que a galera queria e finalmente acabamos indo para Auschwitz por conta própria.
Eu: To go to Auschwitz i get the bus to Oswiecim, right?
Mulher do caixa: Right.
Eu: E de Oswiecim, como chego em Auschwitz.
Mulher do caixa: You don´t.
Ficou assim um bom tempo até que ela finalmente resolveu explicar que Auschwitz é o nome em alemão, que os alemães traduziram quando tomaram a cidade, o nome de verdade (e em bom polonês) da cidade é Oswiecim.
Pegamos o ônibus para Oswiecim, e no caminho começou a nevar, muito, muito, e nevava, e tava frio, cada vez mais, e a paisagem mudou da diversidade de prédios de Kraków para vários campos e árvores cobertos de neve e mais nada.
Até que uma amiga gritou: é aqui, aqui, auschwitz.
Descemos do ônibus(só a gente), no meio do nada. Ficou aquele pensamento no ar, não tem onibus nenhum na estrada agora, e tá frio, se não for aqui a gente se ferrou bem legal.
Dessa vez estávamos no lugar certo, pegamos um guia, e entramos no famoso campo de concentração.
Na verdade o campo é um complexo de 3 campos de concentração, eram 3 campos nas cidades de oswiecim e brzezinka, os chamados: Auschwitz I, II e III. Auschwitz I eu visitei e vou escrever aqui sobre ele, é onde tá tudo armazenado sobre aquela época..era um campo de trabalho e extermínio e dentro dele hoje funciona um museu, o II é conhecido como Auschwitz-Birkenau (campo do complexo de Auschwitz na cidade de Birkenau) e funcionava como campo de concentração e extermínio, também visitei (é aquele que a gente vê nos filmes, tipo no A lista de Schindler). Por último existia o III, conhecido como Auschwitz- Monowitz, foi construído por uma empresa que usava os que estavam no campo para trabalhar para ela, quando os russos invadiram a Polônia a Alemanha deu conta de acabar (ou tentar acabar) com as evidências dos campos de concentração, no caso de Auschwitz só conseguiram destruir totalmente o Monowitz, deixando Auschwitz I e Birkenau para trás.

Auschwitz I – Chegamos neste campo e fomos atrás do guia, passamos por várias cercas de arame farpado, que na época era eletrizado, e muitos internos do campo cometiam suicídio segurando nas cercas de propósito, a entrada deste campo tem um famoso portão onde se lê em alemão: “Arbeit macht frei” ( o trabalho liberta ).
O campo é grande, mas eu ainda estava para ver os maior, este era o menor deles e eu já achei grande.
Este no caso era mais arrumado( se é que era possível), tinha várias casinhas, como pequenos edifícios com números, como uma prisão hoje em dia mais ou menos (acreditem, pelo o que eu vi do outro, este ainda não é nada).
Em cada uma dessas casas funcionava um pequeno museu com um tema diferente sobre aquela época.
Na verdade eu não me refiro aqui sempre com judeus, porquê pelo que eu vi também eles foram a maioria mas havia formas piores de passar por um campo de concentração. Por exemplo, se você fosse judeu, você trabalhava no campo, homem separado de mulher em diversos estabelecimentos, se fosse cigano ficava tudo amontoado em uma casinha esperando morrer e se fosse homossexual ia para campos fazer testes no cérebro ou morria, se fosse um prisioneiro soviético morria na hora (quase nenhum sobreviveu deste grupo). Como os “internos” reunia uma gama gigante de gente, eu vou falar sempre internos e não só judeus.
Porém no caso dos judeus, que eram a maioria, ao chegar eles separavam todos em um método que chamavam de Roll Call (nada de dançinhas da Aiesec, deste caso é outro Roll Call), onde separavam pessoas sãs de pessoas que não eram consideradas boas para o trabalho.
Anciões e crianças eram levados para o extermínio na hora, se fosse uma família que chegasse com crianças os pais mesmo que fossem próprios pro trabalho morriam também para não causar problema na separação, no caso dos ciganos as crianças eram forçadas a trabalhar antes de serem exterminadas.
Uma coisa que eu achei interessante eram os pertences das pessoas, haviam várias mantas de oração, óculos, muletas (da pra imaginar que estes com óculos,bengalas e muletas não davam muita sorte), brinquedos, maletas, e o mais estranho é que tinha uns objetos tipo panela e copos que você pensava: mas por que raios alguém iria trazer tudo isso para um campo de concentração?
A explicação: na verdade as pessoas do leste europeu sabiam que existiam campos de concentração, assim que quando eram detidas traziam o necessario para ir direto ao campo. Já os que eram apreendidos em lugares como Espanha e Itália não faziam ideia da existência destes campos, eles acreditavam que estavam indo para uma espécie de realocamento familiar e traziam tudo que achavam que iria ser interessante para ter uma vida mais confortável.
Ao chegar no campo era tudo confiscado.
Outra parte um pouco mais chocante foram as toneladas de cabelo humano que havia em uma parte no museu, que foram recolhidos quando o campo foi descoberto.
Eu vi as pequenas pastilhas de elementoX (esqueci o composto químico, desculpa povo, química sempre me soou como blablabla h2o), que era derretido e isso era o que soltavam nas câmaras de gás.
Existiam umas salas no porão onde não se podia tirar fotos, que eram tipo salas de tortura, tinha salas escuras, tudo bem pequeno e apertado, salas onde eram forçados a ficar dias de pé, salas onde acontecia de tudo, algumas portas eram arranhadas de dentro pra fora, horrível.
Vimos as camas e banheiros, na hora eu pensei: que merda, mas depois que fui a birkenau aquilo ali até chegou a parecer confortável.
Ainda em Auschwitz I, visitamos o muro onde eles metralhavam as pessoas, sobrou só um restinho do muro (pessoas que tentavam fugir ou que não eram selecionadas para ficar no campo, por exemplo), as janelas ali perto eram todas vedadas para que os internos não soubessem o que passava naquela parte (claro que todos sabiam, era só ouvir os gritos), se alguém tentasse escapar, 10 colegas de cela eram escolhidos aleatóriamente para morrer, a maioria de tentativas de fuga eram punidas com execução em público.
Na verdade nós vimos em documentos lá que houve muito poucas escapadas bem sucedidas e 98% das pessoas que entraram em auschwitz jamais sairam de lá.
Fomos visitar as famosas câmaras de gás, que parece só um quarto sujo hoje em dia, e visitamos a menor das casas de cremação, haviam várias, e vimos os fornos onde cremavam o que restava das pessoas que morriam na câmara ao lado. Esta pequena que vimos tinha capacidade de cremar 300 pessoas por dia, imagina as outras. No final foi mais de 1 milhão de pessoas que nunca sairam de Auschwitz.
De Auschwitz I, pegamos um ônibus para Birkenau. Lá sim devia ser o inferno ao cubo, é o que a gente vê nos files sobre o holocausto.
Era na verdade nada mais que uma fazenda grande, cheia de casebres horríveis, entrei neles e as camas eram de madeira e ficavam de 4 a 6 pessoas em cada, e eram várias camas por casebresinho.
Era lotado de guaritas, e cortado pelos trilhos dos trens que chegavam a cada dia com mais “carregamento” novo. O campo em si está todo destruído mas o que sobrou já é bastante para ter uma noção.
Ouvimos bastante história de pessoas que escaparam e finais felizes, embora não tivessem sido a maioria, alguns escaparam, e hoje em dia é difícil não olhar os velhinhos aqui na Polônia e pensar que eles viveram nessa época aqui, eu tenho certeza que se estivesse aqui nesta época seria o primeiro a ser mandado para um lugar destes.
Depois de Birkenau, voltamos, compramos souvenirs(no meu caso uns livros de fotografias e desenhos feitos pelos internos, pro meu pai), e chegamos em Krakow, o resto tá escrito no post abaixo.
Mesmo este post sendo longo, não deu pra colocar nada daquele dia aqui, foi muita coisa, muita informação.
Sinceramente foi um ponto único nesta estadia na Polônia, e um dos lugares mais interessantes que já viajei no mundo, sem sombra de dúvidas.
Foram 3 vezes na minha vida que eu acabei vendo que até mesmo por respeito a gente que não podia viver livremente eu tenho que sempre ter uma cabeça erguida e ter orgulho de lutar sempre, e que tenho muito mesmo (como com os moradores de rua em hong kong, ou as putas que caiam na mão da mafia chinesa), life is a paradise quando você só é um estudante visitando a Polônia.
Anyways,
Próximo fim de semana vamos para Zakopane, uma cidade nas montanhas, para ver a cultura mais polonesa que há...hehe